Justificação / Enquadramento

Porquê falar de JU?Quando se fala de violência escolar, pensa-se em roubos e destruição de material, faltas de respeito entre alunos e professores. Contudo as situações de violência incluem outros fenómenos, nem sempre tão explícitos, que passam, na maior parte das vezes, despercebidos aos olhos dos pais, professores e da sociedade em geral.Falamos da violência, física e/ou psicológica, mantida entre as crianças e os seus pares, conhecida internacionalmente como fenómeno bullying, e que é uma forma de conduta agressiva, intencional, persistente e prejudicial.Ora a este nível, a escola é um dos contextos em que este fenómeno mais se faz sentir, uma vez que se encontram num mesmo espaço um número elevado de crianças e que se torna difícil para os adultos vigiarem todos os comportamentos e intervirem atempadamente.As constantes intimidações, ameaças, vexames, insultos, humilhações entre pares proliferam à rédea solta nas escolas e constituem a este nível, um excelente retrato daquilo que socialmente é ou não valorizado (ex.: beleza, inteligência, popularidade…). Sendo nas idades mais precoces que se vão delineando estereótipos e atitudes que poderão vir a estar na base de fenómenos como o racismo e a xenofobia, consideramos de todo pertinente a prevenção a este nível.De entre as várias formas de violência, destacamos o insulto e os maus-tratos verbais, tendo em conta que o insulto antecede quase sempre outro tipo de agressões. Aliás, o insulto constitui, em todas as sociedades, uma parte indispensável de qualquer rito de violência. Chamar nomes, ridicularizar, fazer comentários racistas, menosprezar em público ou lembrar de forma constante um defeito físico ou de acção, são práticas generalizadas que constituem moeda de troca entre as crianças nas escolas.Esta forma de violência é perpetrada, habitualmente, por crianças que actuam movidas pelo desejo de expressar o seu poder e de intimidar o/a seu/sua colega, atormentando-o/a até chegar ao ponto de o/a converter na sua vítima habitual.Não se tratando de uma conduta desconhecida, é no entanto oculta, e encarada muitas vezes por pais e professores como “comportamentos próprios da infância” que “ajudam a fortalecer o carácter da criança”, que só notam que está a acontecer alguma coisa grave, quando os efeitos dos danos desta pressão se tornam visíveis (fobia à escola, baixo rendimento escolar, depressão, doenças psicossomáticas).As consequências deste fenómeno, cuja ocorrência é cada vez mais frequente, afectam a personalidade da criança, comprometendo o seu desenvolvimento saudável, como pessoa segura e auto-confiante, por vezes com danos irremediáveis ao nível da sua auto-estima.Sabe-se que muitos dos comportamentos de risco dos adolescentes (uso de drogas, álcool, comportamentos delinquentes), estão relacionados directa ou indirectamente, com o facto de serem ou terem sido sujeitos a violência e/ou bullying.Na escola, a violência entre pares não é vivida, muitas vezes, como um acto de agressividade, e sim como o modo habitual de ser tratado e de tratar o outro.Contudo e encarando a escola como um espaço de afirmação da cidadania, um clima de violência comprometerá certamente a formação de um quadro de valores, subjacente a uma cultura de paz. A aprendizagem da coexistência, cooperação e resolução não violenta de situações de divergência é um elemento básico da aprendizagem dos princípios da cidadania.Este é, sem dúvida, um dos campos por investigar, reflectir, debater, prevenir, actuar entre crianças, pais, professores, técnicos.O projecto “À descoberta de JU” pretende ser um contributo para a prevenção e consciencialização deste fenómeno, partindo da sensibilização e reflexão com os seus próprios actores – as crianças.Acreditamos que educar para a cidadania passa, entre outros aspectos, pela criação de oportunidades de desenvolvimento nas crianças de um auto-conceito e de uma auto-estima positivos e aprender a conhecer e a respeitar o outro.